A Liberdade Humana e a Destruição da Consciência
O que é uma consciência se não for capaz de entender a realidade e reger o seu próprio futuro? O que é o ser humano sem consciência alguma de quem realmente é? Todo ser humano, sendo rico ou pobre, inteligente ou inepto, possui uma consciência. Essa consciência permite compreender aspectos da realidade do mundo ao redor, inclusive do próprio mundo interior. Mas, se a consciência não é capaz de compreender aspectos reais da realidade, se torna quase um peso morto, um ente que nada faz, que apenas existe por existir. O que torna uma consciência inutilizável, ao meu ver, é uma prisão disfarçada de liberdade. O indivíduo escravo de si mesmo — e de elementos externos — vende a liberdade de sua consciência em troca de prazer, porque busca aquietar o anseio de sua alma em buscar respostas para os seus próprios dramas. A alma inquieta busca respostas. Se não encontra no objeto correto, se apega aos aspectos efêmeros, que não respondem a tudo que se é perguntado, deixando muitas dúvidas no ar. Isso significa buscar respostas além dos aspectos físicos, mas se nada for encontrado, o alívio para uma alma inquieta será apenas o esquecimento momentâneo da realidade através do prazer lúdico, e a consciência se torna apenas um objeto imóvel que nada pode exercer influência e controle.
É fundamental uma consciência capaz de enxergar a verdade, mas o ápice de toda decadência é sua destruição, se tornando incapaz de enxergar os mínimos aspectos da verdade que poderia captar e compreender. A sua destruição é sempre de dentro para fora. Nada é mais mortal do que agir dentro de uma consciência quebrada, mudando a maneira de pensar e de agir, transformando-a em uma marionete que não percebe a manipulação que a conduz com mãos quase invisíveis. Criam uma ilusão de liberdade para a fazer pensar que é livre, como, na realidade, não é. Essa consciência, que deveria reger o ser, é controlada para servir a um outro fim, seja ele tolo, imparcial ou até mesmo desonesto. Mas não é exatamente isso que vemos nesse mundo moderno? Pessoas são manipuladas pelos seus desejos, se esquecendo de quem são e negligenciando os seus possíveis potenciais — potenciais estes que podem trazer um sentido maior às suas existências. Indivíduos destroem suas vidas buscando um caminho mais fácil para lidar com seus dramas internos. Neste processo, as suas personalidades se fragmentam em vários pedaços, deixando de ser agentes que exercem influência no mundo exterior para se tornar uma massa de manobra. Não são capazes de ser indivíduos: pensam apenas em se tornar alguém que se dilui facilmente em algum grupo que dê sentido as suas existências. Os seus desejos, que se tornam suas maiores fraquezas, são celebrados com bastante louvor e nada do que transcende a esta realidade é levado como hipótese a ser considerada. O único desejo de realização se torna algo puramente imanente, sendo captado apenas pelas experiências empiricamente sensíveis, que são inerentes ao ser humano e suas desordens interiores.
Ora, muitos desejos incontroláveis se tornam uma ferramenta de controle. E de fato, esses desejos que fazem parte do cotidiano humano, muitos deles estão atrelados à personalidade fragmentada do indivíduo. Mas a questão, é: A que ponto esses desejos irão? A humanidade segue sendo controlada pela sua maior fraqueza, cada vez mais fortalecida pela sua personalidade fragmentada. Sendo controlada, cede a liberdade que lhe resta para desfrutar de um mero prazer, sendo efêmero em sua natureza e não tão profundo como outros objetos mais duráveis, porque o prazer não penetra nas profundezas do transcendente, embora os sentidos venham fazer parte do processo. Por mais que pareça ser incontrolável, ele pode ser contido: basta termos uma razão maior para contê-lo, tendo em vista uma tarefa fundamental que nos torna seres além dos animais sensitivos movidos pelos estímulos naturais. Mas será que nos preocupamos com isso? A nossa maior preocupação é com a suposta liberdade amarrada aos aspectos mais vis, que nos faz andar sempre em círculos de estímulos fáceis e baratos. Não há força humana que consiga escapar desse controle se não houver um auxílio externo, porque as suas amarras se tornam fortes e resistentes. Torna-se difícil resistir e romper com esses grilhões utilizando somente os métodos que conhecemos de forma rudimentar. É algo muito poderoso para rompermos sem o auxílio de algo maior.
Este poder é quase um mandamento divino irrefreável. As fraquezas se tornam um deus e os templos são os bares, as boates, as festas, as passeatas e as rodas de amigos. É um deus que sempre exige adoração e sacrifício. O sacrifício tem sido a própria liberdade destruída e a personalidade sendo corroída gradualmente. A consciência não tem visão e por isso precisa ser liberta para enxergar além. Enxergando além das amarras que a prende à mediocridade, nos tornamos capazes de enxergar alguma coisa, mas ainda assim não é o suficiente. Ao enxergar algo, devemos forçar o nosso ser à verdade descoberta, sendo isso uma tarefa difícil em direção a um bem que estimamos ser o melhor caminho, não somente por ser uma estima, mas por ser de fato o melhor caminho. O caminho fácil deve ser desprezado e os estímulos controlados, porque não se pode compreender aspectos fundamentais do bem se somos constantemente conduzidos de um lado para o outro sem um objetivo claro e definido. Desta fraqueza, surge o mal que nos aprisiona. A verdadeira liberdade está em uma consciência capaz de enxergar o mundo ao seu redor, não somente como um crítico, mas como alguém que aprecia o bem. O bem sendo árduo em muitas ocasiões, torna as coisas claras e melhores, e obtê-lo é o caminho que nos conduz à liberdade, mesmo sendo difícil em sua natureza. Esse é o caminho que nos torna indivíduos melhores e verdadeiramente livres. A liberdade precisa ser vista fora dos aspectos meramente efêmeros. Não é nas suas fraquezas que você achará a verdadeira liberdade. A consciência, livre de amarras, torna o indivíduo livre para pensar a realidade e ao bem que existe intrinsecamente à mesma. Se não somos capazes de entender essa realidade, seremos apenas pessoas sem rumo, sem a devida consciência de quem somos e o que estamos fazendo neste mundo. Esse deus, que tanto adoramos, precisa ser destruído. Somente assim, a nossa consciência poderá desfrutar de um pouco de liberdade, e isso é muito valioso para ser desperdiçado.
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